Pesquisadores conseguem extrair essência usada em indústrias como as de cosméticos, produtos de limpeza e fragrâncias a partir do óleo extraído da espécie citriodora. Descoberta pode fazer com que o Brasil deixe de depender exclusivamente da importação
Por Marinella Castro

Apesar de ser grande produtor de óleos essenciais, o Brasil é um grande importador do mentol sintético. Todo o produto é comprado do Japão e da Alemanha, que detêm a tecnologia de produção do mentol, obtido a partir de plantas do gênero mentha. A novidade da pesquisa mineira foi mostrar que o óleo essencial, extraído por meio da decantação de folhas da espécie citriodora, também pode ser transformado no componente sintético. O óleo obtido de outras espécies, como o eucalipto utilizado para a indústria do papel, não têm propriedades aromáticas. A ideia é que, a partir de agora, o produto passe a ser feito no país, abastecendo o mercado interno e reduzindo a dependência externa. Com a nova tecnologia, o país também ganha a chance de concorrer no bilionário mercado internacional.
O estudo, coordenado pela professora Elena Goussevskaia, já está patenteado. No país, não foram identificadas outras rotas de produção, nem mesmo com patentes estrangeiras. O novo produto é resultado da aplicação de um processo químico inovador. Foi utilizado um catalisador que transforma o citronelal, composto presente no óleo de eucalipto, em mentol. Além do óleo, principal insumo da pesquisa, a tecnologia envolve também o uso do gás hidrogênio e de catalisadores.
Outra inovação do estudo é que com o uso do catalisador foi possível, em uma única etapa, passar do óleo de eucalipto para o mentol. Como explica Robles, mundialmente o mentol sintético é obtido a partir de seis etapas químicas. A obtenção da matéria-prima é sempre um desafio e virou outro diferencial do mentol mineiro . Em Minas, a espécie citriodora já é cultivada em larga escala e, para dar impulso à nova tecnologia, as plantações poderiam ser fomentadas por meio de cooperativas agrícolas, o que garantiria o fornecimento do óleo essencial, para ser transformado no produto de maior valor agregado, impulsionando também produtores agrícolas.
Mercado promissor
Com perspectivas de ganhar o mercado, o estudo já está sendo testado em um pré-piloto para que o produto seja feito em grande escala. Segundo a pesquisadora, como o procedimento é simples, realizado em uma única etapa química, a tecnologia nacional poderá ter custo mais baixo que a dos concorrentes internacionais. A intenção é que o mentol de eucalipto se transforme em um negócio lucrativo. “Para que o Brasil se torne uma potência em ciência e tecnologia, é preciso direcionar as pesquisas para o mercado”, defende o gerente de Inovação e Tecnologia do Sebrae-MG, Anizio Vianna. Com a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, o Sebrae desenvolve projetos para fomentar a criação de empresas, e o projeto de transformação do óleo do eucalipto em mentol sintético chamou atenção das instituições pelo seu potencial.
O estudo da viabilidade do mercado para o mentol já está concluído e a próxima etapa será o plano tecnológico. “Todo o mentol utilizado no Brasil é importado. O país, porém, está entre os maiores exportadores do óleo essencial, que é pouco utilizado aqui para síntese de compostos de alto valor comercial”, diz Vianna. Outros óleos essenciais, como os de pinho e de laranja, estão sendo estudados pelo grupo de pesquisadores da UFMG, já que também podem ser transformados em mentol sintético. No entanto, a pesquisa está avançada apenas com o eucalipto.