Premissas
pessoais na prática da Aromaterapia
Por
Arnaldo V. Carvalho
Minha aromaterapia,
custei a perceber, começou já diferente de muitas outras, porque
ela perpassava por uma formação intelectual altamente envolvida com
a questão ecológica, ambiental e social, desenvolvida no contato
com a natureza e incentivo à autonomia proporcionada pelo escotismo,
e se desenvolveu praticamente na mesma época de meu processo de me
tornar um naturopata.
Trata-se, pois, da
aplicação dos estudos aromatológicos sob o ponto de vista da
Natureza. As bases de uma “Aromaterapia Naturopática”. Essa
forma de enxergar a utilização do olfato em terapia, por um lado, e
dos componentes aromáticos da matéria viva e seus princípios
ativos, de outro, tem premissas simples e diretas: precisa ser
acessível, real, ecológica, respeitosa e segura.
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Precisa
ser a mais acessível possível
Uma terapia
acessível significa que trabalharemos, preferencialmente, com o que
está à disposição da pessoa a ser tratada. Óleos e outros
produtos terapêuticos caros ou
dificílimos de encontrar não estão em nosso escopo, a não
ser em raros
casos. Para gerar acesso, a Aromaterapia também deve reconsiderar a
utilização de plantas vivas, o cultivo terapêutico pelo cliente, e
uma utilização mais frequente dos hidrolatos.
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Precisa
ser real (fora do efeito placebo que não é mal, mas foge de nosso
interesse)
O efeito placebo é
amplamente estudado e funciona de forma bastante significativa. Isso
faz com que, às vezes, o remédio errado pareça dar certo, quando é
apenas… Sugestão. Nem acho mal que um aroma agradável faça bem
pelo efeito placebo. Mas sem dúvidas, o que queremos aqui é
utilizar o poder de interação aroma-animal que está por trás dos
efeitos terapêuticos de óleos essenciais e demais materiais e
estratégias de trabalho com aromaterapia. É preciso coragem para se
admitir que, de um lado, o tratamento é mais poderoso que uma
simples “terapia de cheirinhos” (placebo), e de outro mais
limitada do que apregoam os fanáticos da aromaterapia (há vários,
com muitas promessas de resultado que beiram o milagre).
Aromaterapia real
envolve, inclusive, uma decodificação acertada dos estudos
científicos, tão fartamente disponíveis na Internet. Infelizmente,
são quase sempre mal compreendidos pelos leigos. Um exemplo: a
constatação experimental de que o ácido láurico (principal ativo
do óleo de coco) é um ambiente hostil ao vírus HIV segundo
experiência in vitro não deve encher um portador do mesmo
vírus de esperanças para além de que há muito o que se estudar e
fazer até que se ache (se é que vão achar) alguma viabilidade
clínica para essa informação que surgiu do lado de fora do corpo.
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Precisa
ser respeitosa (com o meio ambiente, os animais e as pessoas);
Clientes e
terapeutas quase sempre se esquecem do custo de produção do óleo.
Não estou me referindo apenas às cifras: me refiro ao custo
ambiental. Aromaterapeutas adoram dizer: “é preciso 1-3 toneladas
de pétalas para se obter apenas um litro de óleo de rosas!” e
coisas parecidas. A conta justifica o preço alto – e também uma
suposta “eficiência pela concentração”. Eles não parecem
preocupados com a quantidade de solo e recursos utilizados para esse
produção, do ponto de vista ecológico. Não estão preocupados com
o impacto ambiental que qualquer cultivo em escala produz. Em geral,
o consumidor de óleo essencial só pensa no benefício que a planta
pode fazer por ele. Nunca pensa no benefício que ele precisa
retornar à natureza.
Mas isso não ocorre
somente na hora da compra. Também se refere aos modos de uso. O
quanto se perde de material em um difusor que aromatizará um
ambiente de, digamos, 15m2, quando sua utilização real se dá em
1,5m2 (uma pessoa acamada por exemplo)?
E em relação às
doses e utilizações acima do necessário? Se o efeito se dá com
duas gotas, porque tomar 3, “só porque é inofensivo”? Se o
resultado por inalação acontece, porque eu retiraria gotas de um
recipiente inutilmente?
Finalmente, quando
teremos empresas apoiando comércio justo, monitorando produções
com mão de obra semiescrava,
quando teremos o consumidor cobrando informação acerca disso e
valorizando os pequenos produtores familiares?
Decisões que dizem respeito à consciência ecológica precisam ser tomadas. É urgente. NÃO À AROMATERAPIA PREDATÓRIA E EGOÍSTA!
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Precisa
ser segura (para quem orienta, produz, se trata, etc.);
Do manejo agrícola
com venenos, passando pela qualidade dos destiladores utilizados,
chegando a questão das dosagens e modos de uso em aromaterapia, é
necessário que a aromaterapia seja segura. Para isso, é preciso
consciência na orientação e no uso.
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Precisa
ser compreendida em profundidade por seus profissionais, o que
implica em:
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Relativismo:
O que serve para uns nem sempre serve para outros, não há, na
natureza, remédio 100% “genérico”. Isso seria “alopatia
verde”, baseada em substância.
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Conhecimento
de fisiologia: fundamental para se compreender os mecanismos de
ação e reação do corpo, de forma local e sistêmica, incluindo
as implicações somatopsiquicas, e neurofísicas.
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Conhecimento
de farmaco e toxocologia (convencional e/ou etno farmacologia):
Compreender minimamente a complexidade química envolvida no que
será preconizado, os possíveis efeitos no organismo, etc. é item
de segurança e facilita a seleção do produto mais seguro, dose,
etc. a ser utilizado.
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Utilização
combinada: Aromaterapia muitas vezes é uma parte de um tratamento
mais extenso e utiliza outros recursos. Conhecer as melhores
combinações para gerar estratégias acertadas é fundamental.
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Ir além da
matéria: Estamos lidando com um campo onde conhecer o ponto de
vista químico e físico pode e talvez deva se combinar ao ponto de
vista “do invisível”: estamos falando dos aspectos energéticos
que ainda estão para ser melhor compreendidos, mas que já são
estudados por muitas medicinas tradicionais, e referenciados em
livros de etnobotânica, etnofarmacologia.
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Experiência
clínica, não apenas ter ouvido alguém dizer ou lido em um livro.
Infelizmente, é aqui que a maioria das pessoas tropeça. Elas
afirmam que o “óleo X” é bom para “z” baseado no que
leram em um livro ou em um site. E os livros, por sua vez,
reproduzem um discurso que não leva em conta contexto, o histórico
da pessoa que tratada, etc. O problema não é exatamente não
terem a experiência, mas não terem o cabedal necessário para uma
leitura crítica do que estudaram. Se basear cegamente em
informação que quase sempre está recheada de problemas (do
determinismo “vai dar certo” ao comprometimento da fonte de
informação com um grupo ou indústria). Faz diferença ter
experienciado por longo tempo o que cursos, pessoas e livros dizem,
para aos poucos se poder avaliar o que realmente funciona, quando,
etc.
Essa é a terapia
que preconizo. Faz parte de um todo maior, relacionado à Naturologia
que parte do princípio da Vida como Relação. Nessa terapêutica,
compreendemos que é preciso encontrar a relação do indivíduo com
ele mesmo, com o Outro e com a natureza. Relações saudáveis,
indivíduo saudável.
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